Dois estudantes encontráram n’uma estrada um azeiteiro que ia guiando um burro, carregado de bilhas de azeite. Os estudantes que estavam sem dinheiro, ficaram muito contentes com aquelle encontro e combináram furtar o burro do azeiteiro para o venderem; e emquanto o pobre homem seguia o seu caminho muito socegado da sua vida, levando pela mão a arreata do jumento, um d’elles tirou a cabeçada do burro e collocou-a no pescoço, e o outro escapou-se com o burro e a carga. O que ficou em logar do animal, parou fazendo com que o azeiteiro olhasse para traz. Qual não foi, porem, o espanto d’este vendo um homem em vez do burro!…

O estudante disse para elle com voz muito terna: «Ah! senhor, quanto lhe agradeço ter-me dado uma pancada na moleirinha! quebrou-me o encanto que durante tantos annos me fez jazer burro!…» O azeiteiro tirando o chapeo, disse-me muito humildemente: «Perdi no senhor, como burro, o meu ganha-pão; mas paciencia! Como homem que agora é, peço-lhe muitos perdões… por tel-o maltratado tanta vez; mas que quer?… o senhor fazia-me ás vezes desesperar com as suas birras, e eu não era senhor de mim!»

— Está perdoado, bom homem! disse o estudante, o que lhe peço é que me deixe em paz.

O pobre azeiteiro, quando se viu só, lamentou-se da sua desgraça, e foi pedir dinheiro a um compadre para ir no dia seguinte á feira comprar outro burro. Quando chegou á feira viu lá o jumento que lhe tinha pertencido, e que o estudante, que elle não vira quando lh’o roubaram, estava a vender. O azeiteiro julgando que o homem-burro se tinha transformado outra vez no seu burro, chegou-se ao pé do estudante e pediu-lhe licença para dizer um segredo ao burro. O estudante disse-lhe que sim e o azeiteiro chegando a bocca á orelha do animal, gritou com toda a força:

«Olhe, senhor burro, quem o não conhecer que o compre.»